domingo, 18 de dezembro de 2016

Sobre coragem

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    A gente não sabe que tem coragem até ser impelido a tê-la. A gente não sabe que é capaz até precisar ser. A gente não sabe o que há sob as águas escuras de um lago até mergulhar nele. Essa é a figura do meu 2016, que no seu início se pintava dessa forma pra mim.
    Janeiro, dia 30 meu aniversário. Lembro de todos os rostos me olhando. Aguardando que eu falasse antes de partir meu bolo. Falei. Me despedi. Não sabia muito sobre meu destino, mas me despedi. Sabia que meu 2016 seria diferente. Muito diferente, mas não sabia em que.
    Me via frente a um precipício de uma paisagem linda, ainda confusa, mas deslumbrante. Com ninguém pra me empurrar, precisava apenas do meu próprio impulso pra me lançar, lá do alto e sem olhar pra baixo.
    Me joguei, num impulso frenético e único. Sem paraquedas. Sem abrir os olhos. Já estava lá, caindo com aquele barulho de vento ensurdecedor, com aquele frio  me congelando de dentro pra fora e sem saber se me arrepiava de medo ou do ar denso que sentia batendo no peito.
    Lá embaixo um lago surge pequeno. Escuro. Nada de águas cristalinas. Escuro e misterioso. Sabia que era ali meu pouso. E foi. Conturbado, cheguei num pouso nada tranquilo. Nada fácil. Na água fria tombei. Ouvi de repente o silêncio da minha mente dentro d’água. Só me restava meu Eu falando comigo, me desafiando enquanto um outro Eu me dizia que não daria certo. Uma briga intensa se travou, ali, no escuro, comigo submerso.
    Atônito, eu buscava no que me agarrar na intenção de alcançar a superfície. Nada mais me interessava nesse momento do que a superfície. Meu corpo parecia desfalecer no silêncio. No escuro. A esperança não se via nem no verde da vegetação submersa.
    E no último instante subi de carona numa corrente que me levou pro alto. Já sem fôlego, respirei ofegante como se a vida me entrasse pelas narinas. E abri os olhos.
    Olhei pra cima e percebi que não era tão alto assim. Olhei pros lados e vi que não estava sozinho. Olhei para as águas silenciosas e percebi que a correnteza já não existia.
    Uma nova paisagem se desenhava pra mim. Eu já não era igual ao que havia pulado há alguns segundos. Era um novo Eu que surgia. Renascia das águas escuras e respirava tranquilo.

    A gente não sabe tem poder até querer poder. A gente não sabe que consegue antes de tentar. Mas pra isso a fé, que só faz sentido na retrospecção, deve chegar chutando nossas costas em direção ao precipício das coisas futuras. É tudo sobre sonho, baby. É tudo sobre realização. Obrigado, 2016. Você conseguiu sua marca na minha história.

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