A gente não sabe que tem coragem até ser impelido a tê-la. A gente não
sabe que é capaz até precisar ser. A gente não sabe o que há sob as águas
escuras de um lago até mergulhar nele. Essa é a figura do meu 2016, que no seu
início se pintava dessa forma pra mim.
Janeiro, dia 30 meu aniversário. Lembro de todos os rostos
me olhando. Aguardando que eu falasse antes de partir meu bolo. Falei. Me
despedi. Não sabia muito sobre meu destino, mas me despedi. Sabia que meu 2016
seria diferente. Muito diferente, mas não sabia em que.
Me via frente a um precipício de uma paisagem linda, ainda
confusa, mas deslumbrante. Com ninguém pra me empurrar, precisava apenas do meu
próprio impulso pra me lançar, lá do alto e sem olhar pra baixo.
Me joguei, num impulso frenético e único. Sem paraquedas. Sem
abrir os olhos. Já estava lá, caindo com aquele barulho de vento ensurdecedor,
com aquele frio me congelando de dentro pra fora e sem saber se me
arrepiava de medo ou do ar denso que sentia batendo no peito.
Lá embaixo um lago surge pequeno. Escuro. Nada de águas
cristalinas. Escuro e misterioso. Sabia que era ali meu pouso. E foi.
Conturbado, cheguei num pouso nada tranquilo. Nada fácil. Na água fria tombei. Ouvi
de repente o silêncio da minha mente dentro d’água. Só me restava meu Eu
falando comigo, me desafiando enquanto um outro Eu me dizia que não daria
certo. Uma briga intensa se travou, ali, no escuro, comigo submerso.
Atônito, eu buscava no que me agarrar na intenção de
alcançar a superfície. Nada mais me interessava nesse momento do que a
superfície. Meu corpo parecia desfalecer no silêncio. No escuro. A esperança
não se via nem no verde da vegetação submersa.
E no último instante subi de carona numa corrente que me
levou pro alto. Já sem fôlego, respirei ofegante como se a vida me entrasse
pelas narinas. E abri os olhos.
Olhei pra cima e percebi que não era tão alto assim. Olhei
pros lados e vi que não estava sozinho. Olhei para as águas silenciosas e
percebi que a correnteza já não existia.
Uma nova paisagem se desenhava pra mim. Eu já não era igual ao
que havia pulado há alguns segundos. Era um novo Eu que surgia. Renascia das águas
escuras e respirava tranquilo.
A gente não sabe tem poder até querer poder. A gente não
sabe que consegue antes de tentar. Mas pra isso a fé, que só faz sentido na
retrospecção, deve chegar chutando nossas costas em direção ao precipício das
coisas futuras. É tudo sobre sonho, baby. É tudo sobre realização. Obrigado,
2016. Você conseguiu sua marca na minha história.
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