sábado, 9 de maio de 2015

Essa nossa conectividade

    Internet: uma revolução. Uma confusão. Fico analisando como o ‘always on’ nos tranforma e muda nossas relações e até nosso bom senso. Whatsapp? Uma praga contemporânea. Se pensarmos bem estamos nos escondendo atrás de aplicativos dos nossos smartphones. Não queremos olho no olho e temos medo de parecermos frágeis quando deixamos nossa voz ecoar pelas ondas no espaço. Gente que escreve em letras garrafais: NÃO RECEBO LIGAÇÕES. LIGAÇÃO SÓ EM CASOS URGENTES. ESTOU OCUPADO, MANDE MENSAGEM.  Tudo uma tentativa de burlar o que é real e o que é natural quando falamos ou vemos do outro.

    Já está mais do que comprovado que a nossa comunicação é em grande parte auxiliada pela linguagem do corpo (gestos, tom de voz, expressões...) e nada melhor do que os meios de comunicação mediados por dispositivos para nos ajudar a burlar isso tudo e parecer o que queremos parecer. Na ‘era do computador’ já se via isso, mas ainda tínhamos o telefone que exigia da nossa voz. Hoje os aplicativos permitem que ignoremos, que não respondamos, que não nos preocupemos, que mintamos e por aí vai.

    Existe também o lado que perde o bom senso: Muitas vezes recebo no meu celular notificações de madrugada para tratar de trabalho, alguém pedindo foto de uma balada ou me perguntando algo que poderia ser perguntado em outro momento. Não é porque estou online que eu estou disponível para determinadas coisas. Notificações geram barulho, faz você se levantar achando que é algo mega urgente e assustam quando ocorrem no meio da madrugada. Daí vocês me sugerem: coloca no vibra ou no modo ‘dormindo’. Então eu que sou o errado em deixar o celular com som na madrugada? Ok. Próximo ponto:

    Por que ignorar uma ligação parece mais ‘grave’ do que ignorar uma mensagem no Whatsapp? Ligação gera um som contínuo, ocupa a interface do celular por alguns segundos e sempre tem o tom de urgência. Whatsapp pode ser lido na tela inicial sem gerar os ticks azuis (e uma galera acha que só eles sabem do truque), pode ser lido e uma desculpa fácil pode ser inventada para não responder de imediato. Enfim, é uma maneira contemporânea que achamos de mentir, burlar, ignorar.
    Acho curioso como nos relacionamos pós mídias digitais. Tinder? Nem se fala. Quantos matches, nenhuma palavra, nenhum interesse. O interesse vem e vai em um deslize. Não há disposição. Há curiosidade momentânea.

    Eu te sigo, você me segue, andamos em círculos e nunca deparamos com o outro. Nunca nos vemos de frente. - Te sigo no Instagram! - Ah, legal! –> E?
    Tenho decidido me desconectar um pouco (um quase especialista em mídias digitais querendo ficar off) e olha que tem gente que já está em níveis altíssimos de risco: teclando no trânsito (o que é tão urgente que não pode esperar a pessoa chegar daqui-ali?) indo pra festas pra colar a cara no celular a noite inteira (fica em casa né? Pelo amor de D’s). Daí fico pensando: eu que sou o chato que fico observando essas coisas? Será que sou um velho num corpo de 26anos?

    O que passa na cabeça de uma pessoa, rodeada de gente, que fica rindo à toa falando com alguém no whatsapp? Não está interessante? Nada te obriga a permanecer com tais pessoas. Sim, me sinto me-ga ofendido quando isso acontece e eu estou por perto. Bom, vou ficar por aqui que o texto já tá grande demais. Quem sabe venho com uma parte II?

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