domingo, 3 de julho de 2011
Giz de Cera
A partir da primeira palavra que escrevo, outras vão surgindo. Vem fluentemente, sem travar, como se estivessem atreladas desde seu nascimento. Elas constroem o que eu destruo a cada dia. O que eu espero não esperar. Lembro de figuras, rabiscos na parede quando criança, vejo que nada pude esboçar do que outorgo hoje a mim e a quem perto de mim tenta estar. Acabo portanto, desobedecendo aos meus pais, riscando as paredes da minha casa, com giz de cera, até onde a mão alcança, e só alcança até onde a idade permite rabiscar. Daqui pra frente, não há parede que se possa pintar, limpando o que cores de giz de cera vão sujando, digo, ilustrando, planejando, mas me dão uma caneta de tinta forte, irremovível com a qual assino documentos diários de comportamento, de personalidade, de quem sou e serei. Sempre vou saber onde assinar, mas nunca vou saber se devo ou não. É tudo uma questão de contrato com a vida. Contrato imperdoável, irrevogável. Assino e o pacto está feito. Eu o assumi, mas sem saber, pensando que a qualquer hora meu pai viria e apagaria tudo com uma lata de tinta fresca. Mas, agora não é rabisco, é sério. É irrevogável. E os contratos aparecem, com letrinhas tão pequenininhas que a gente nem lê, assina e pronto. Daí as coisas vão acontecendo, e me dizem: estava no contrato, você concordou com ele. E não adianta rasgar, tocar fogo. Na minha mão não cabem mais giz de cera.
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