quinta-feira, 17 de abril de 2008

O Conto da Rosa Azul


    Numa modesta casa, de portas estreitas e janelas sempre abertas, moravam Seu Eduardo e Liana, isolados do mundo moderno. Seu Eduardo era trabalhador e viúvo, ainda de boa aparência, devia ter seus quarenta anos, tinha personalidade rude, mas amava sua filha como ninguém. Liana era fruto do seu casamento com Dona Lívia, levada por uma violenta tuberculose dias depois de dar a luz à filha. A menina, que ainda não sabia o que era o amor, apenas conhecia sua mãe do pescoço para baixo, graças a uma foto rasgada que seu pai possuía, sonhava todas as noites com sua mãe, imaginava como seria seu rosto, seus cabelos, seus olhos, queria saber quais traços dela havia herdado. Mas eram apenas sonhos.

    Rotineiramente Seu Eduardo saía para cuidar da sua cultura de rosas azuis - uma raridade naquela região, onde só Seu Eduardo possuía um terreno com peculiaridades que permitiam seu cultivo. Todos que por ali passavam olhavam os quatro cantos, consultavam a presença de um possível alguém, e quando não o avistavam, catavam uma das flores por baixo da cerca e saíam como se nada tivesse ocorrido. Presenteavam suas esposas, filhas ou até mesmo levavam para casa e desfrutavam do seu cheiro tão singular. A rosa era uma preciosidade cultivada por Seu Eduardo.

    Liana passava os dias em casa brincando com as bonecas deixadas por sua mãe, quando não, ajudava a seu pai a embalar as flores colhidas para levar à cidade. E assim, vivia das bonecas para as rosas, das rosas para as bonecas.

    Os anos passavam e Liana crescia mais na mente do que no corpo. Certa tarde ao voltar do campo, Eduardo depara com Liana rasgando suas bonecas dantes preferidas.

    - Pai, não quero mais estas bonecas!

    - Por que minha filha?! Aliás, não é nem necessário perguntar o porquê. Vejo que estão em um péssimo estado, afinal são quinze anos resistindo às suas brincadeiras. Trarei da cidade duas novas pra você, assim poderá aposentar estas aí.

    - Não pai! Deixe-me falar! – Disse a impaciente Liana – Não tenho amigas, cansei de falar com quem não me escuta, quero conhecer gente pai! Gente.

    - Mas minha filha, não conheces o Nado, a Verinha e a Pepa?

    -Sim papai! Os conheço, mas não lhes são agradáveis as minhas idéias. Nem simpatia tenho pelas suas, além de serem bem mais moços que eu.

    Liana teve de seu pai as costas como resposta. Batendo bruscamente a porta - a qual fez voar certos passarinhos que ali pousavam - Seu Eduardo saiu rumo às rosas. Liana, frustrada, caiu ajoelhada ao chão, desanimada com o bravo silêncio do Pai. Conformou-se.

    -Está certo filha! A levarei para a casa de uma tia sua na cidade, percebo que também está na hora de ingressar em uma escola para que se envolva com as letras e não seja ignorante como seu pai – Disse com voz embargada e olhos rasos d’água após uma noite de insônia refletindo sobre a filha.

    Sorridente, Liana - já com formas em seu corpo – saltou de alegria dentro de si. A imagem de seu pai a reprimia de tal extravagância. Podia escutar com facilidade seu coração palpitar e se misturar aos estalos da lenha e ao cheiro do café. Não havia data para a partida, ainda sim Liana já andava pela vila com certa altivez. Não sabia o que a esperava na cidade.

    (continua)

    2 comentários:

    Tato Messias disse...

    Lipe,muito legal!
    Quero saber o restante da história...continua logo
    hehe
    abraçooooo

    lane disse...

    isso aí meu comunicólogo preferido....huhahuau
    muito bom,continue assim!!!!vivenndo e escrevendo...